ACIDENTES CLIMÁTICOS E FISIOLÓGICOS
Nesta região, devido à condicionalidade climática e orográfica que a caracteriza, a videira sofre com alguma frequência acidentes de forma directa e indireta. De forma directa, actuam as geadas, o granizo, o frio, o vento e o escaldão, acarretando qualquer um deles prejuízos directos na produção (pâmpanos e / ou órgãos de frutificação). De forma indireta, esses prejuízos podem ser mais ou menos graves consoante o estado fenológico em que se encontra a vinha - que por sua vez está altamente relacionado com o regime termo-pluviométrico regional - interferindo nos processos fisiológicos normais da videira (diferenciação floral, vingamento, etc).
A presença de numerosos rios e vales mais ou menos abertos, cria condições diferenciadas na região, podendo ocorrer um acidente numa determinada sub-região e noutra não.
Geadas
A ocorrência de geadas mais consequente, situa-se na primavera quando a vinha acaba de rebentar e os olhos ou ramos jovens são ainda muito tenros. Só ocorrem em noites frias, de céu limpo, portanto sem nebulosidade, e sem vento, dado que as nuvens devolvem o calor irradiado para a terra e o vento mistura o ar mais quente de camadas superiores com o mais frio dos níveis mais baixos. As zonas mais baixas e com deficiente drenagem atmosférica, são mais atreitas à geada bem como os solos arenosos, soltos e pedregosos que arrefecem mais rapidamente.
Como medidas de prevenção, há que evitar plantar vinha em zonas baixas mal drenadas e manter o solo com um coberto vegetal cortado, pois ervas altas ou solo mobilizado, arrefecem mais. Há sistemas de protecção, que perante o registo das temperaturas críticas dispara um sinal, que desencadeia uma rega num sistema aéreo instalado na vinha, mas esta medida só está ao alcance de alguns que instalam indevidamente a vinha. Como principal medida cultural, convém atrasar a poda em vinhas mais atreitas e iniciar pelas castas de rebentação mais tardia (caso da Trajadura e do Vinhão).
Se a geada ocorrer numa fase inicial, os gomos secundários do olho deixado à poda rebentarão, e embora com menor fertilidade que o principal (queimado) assegurarão a poda do ano seguinte; também estimula a rebentação dos olhos da coroa. Se ocorrer numa fase mais tardia (cachos visíveis ou separados), há perda de folhas e estimula a rebentação de netas. Perante uma incidência de geada grave, vários procedimentos devem ser tomados, tais como, efectuar uma poda nas varas de frutificação ou no ramo verde, proceder ao esladroamento e eliminar os lançamentos dos olhos da coroa, e mais tarde fazer uma adubação foliar para refazer o crescimento.
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Frio
O efeito do frio durante o ciclo vegetativo da videira pode ser nefasto em duas épocas: Primavera e Verão.
Quando a Primavera decorre com tempo frio, o crescimento é mais lento e as inflorescências podem 'engavinhar', na totalidade ou parcialmente, o que afecta drasticamente o potencial produtivo desse ano. Não há qualquer medida a ser tomada.
Quando o Verão não decorre com a normal temperatura mais elevada e sem precipitação, a diferenciação floral pode ser afectada, isto é, os olhos latentes das varas ficam foliares e não florais, comprometendo a produção ('nascença') do ano seguinte. Não há qualquer medida a ser tomada.
Vento
A acção de ventos fortes é particularmente importante até à floração/vingamento, pois os pâmpanos, qualquer que seja a futura orientação da sebe, crescem sempre na vertical e só quando atingem determinado peso (10-12 folhas saídas) é que tombam naturalmente se deixados livres. Aí, já a inserção na vara de poda está mais solidificada e não parte. O vento, que pode vir de sul (prévio a uma chuva) ou de norte, se ocorre nesse período pré-floral provoca quebra dos pâmpanos e quebras na produção.
Há castas mais sensíveis do que outras, como é o caso do Loureiro, que associado à sua sensibilidade à escoriose, é particularmente afectado em conduções retombantes não aramadas; chama-se ao fenómeno 'desnoca'. Também nas mesmas condições, a casta Alvarinho é sensível.
Granizo
O granizo, é provavelmente a ocorrência climática mais nefasta para a videira, porquanto pode ocorrer durante todo o ciclo vegetativo. Desde o abrolhamento à vindima, pode ser responsável pelo desprendimento de gomos, lançamentos, inflorescências, cachos e bagos, para além de provocar feridas nos ramos e rachamento nos bagos. Ao contrário das geadas, não há medidas preventivas a tomar, pois a queda de granizo ocorre casualmente e de forma localizada.
A incidência do granizo em pleno desenvolvimento da videira, normalmente implica a eliminação de lançamentos afectados e a eliminação das extremidades dos pâmpanos, para provocar a emissão de netas e assim uma recuperação do potencial foliar da videira. Deverá ser feito um tratamento anti-botritis e uma adubação azotada ao solo; no caso de ficarem ainda folhas remanescentes, dever-se-á aplicar uma adubação foliar que inclua o cálcio, dado que é o elemento com maior poder cicatrizante.
Tromba de água
As trombas de água são perniciosas no verão, normalmente associadas a trovoadas, e durante a maturação, podendo derrubar ao solo, ramos ou apenas cachos e folhas, com perdas significativas da produção.
Escaldão
Durante a maturação, no verão, os cachos estão sujeitos a serem 'queimados' pelo sol quando demasiado expostos e perante condições de elevadas temperaturas e baixa humidade relativa do ar. Como medidas de prevenção, há que evitar as desfolhas severas, actuando apenas do lado da sebe menos exposta e não retirar netas apenas folhas.
Há castas mais sensíveis (caso do Vinhão) e condições mais propícias, como as vinhas jovens e os solos mais pobres e secos.