Doenças
Míldio - Plasmopara viticola
Trata-se da principal doença da videira nesta região, provocando estragos com maior repercussão na produção da videira, destruindo quer inflorescências (pré-floração) quer cachos desde o vingamento até ao pintor.
Este fungo conserva-se essencialmente durante o Inverno, nas folhas mortas ou no próprio solo, sob a forma de ovos (oósporos), que na Primavera germinam dando macroconídios e estes a zoósporos, esporos com 2 cílios que se deslocam na água. A partir das frutificações das infeções primárias (1ªs manchas de óleo na página superior das folhas e correspondente mancha branca na página inferior) o míldio reproduz-se, dando origem às infeções secundárias, tantas vezes quantas as condições ambientais o permitam.
A contaminação das infecções primárias só tem lugar desde que se verifiquem temperaturas superiores a 10ºC, com um mínimo de precipitação de 10 mm durante um ou dois dias e com pâmpanos que tenham crescimentos de 10 cm no mínimo, daí se dizer que ocorre segundo a 'regra dos três 10', sendo de maior risco as zonas mais húmidas da vinha e as folhas próximas do solo, por fácil acesso aos salpicos de gotas de água com zoósporos presentes nas poças de água.
Já para ocorrerem as infeccões secundárias basta os órgãos verdes da videira ficarem húmidos durante um curto espaço de tempo (2 a 3 horas) consoante a temperatura; portanto, noites orvalhadas são suficientes para provocarem ataques de míldio.
Dado que todos os órgãos verdes podem ser atacados, os ataques e respetivos sintomas do míldio na videira sucedem-se ao longo do ciclo vegetativo.
Órgão (estado fenológico)
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Sintomas do Míldio
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Folhas jovens (F-G)
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Mancha de óleo na página superior da folha e correspondente mancha branca pulverulenta na página inferior
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Inflorescências (H-I)
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Bolor branco, cor acastanhada e inflorescência em 'S' ou em báculo (Rot gris)
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Cacho após alimpa (J)
Pâmpano após alimpa (J)
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Bolor branco que evolui em necrose, ao nível do ráquis, dos pedicelos e mesmo do pedúnculo
Necrosados e curvatura da extremidade em báculo
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Cacho após bago de ervilha (K)
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Manchas acastanhadas e com 'dedadas' nos bagos que se enrugam e secam (Rot brun)
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Folhas após vindima - Outono
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Manchas necrosadas, pequenas e delimitadas pelas nervuras (Míldio mosaico)
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Alguns sintomas do míldio podem-se confundir com os de outras doenças ou pragas, é o caso do bolor branco do oídio (ectoparasita) que recobre os órgãos mas que facilmente desaparece ao tato, enquanto o do míldio (endoparasita) não; também a podridão cinzenta cria um bolor nos bagos mas de coloração cinzenta e a necrose acastanhada ao nível do ráquis é mais mole que a provocada pelo míldio, e finalmente, as manchas amareladas das folhas provocadas pelo aranhiço amarelo são acompanhadas de pontuações negras no seu interior sendo inexistentes nas do míldio.
Em casos de fortes ataques, as folhas tendem a secar parcial ou totalmente, caindo prematuramente, o que compromete a vindima tanto em quantidade como em qualidade, bem como o atempamento dos sarmentos.
Para além das condições favoráveis ao desenvolvimento do míldio em determinados anos, há castas particularmente sensíveis, como são exemplo, as castas brancas Avesso e Trajadura.
Dado que o único meio de luta anti-míldio actualmente eficaz é o químico, a estratégia de proteção passa inevitavelmente pela oportunidade dos tratamentos, recorrendo a produtos de contacto (carácter preventivo) e/ou penetrantes ou sistémicos (carácter curativo), face às condições de risco de desenvolvimento do fungo.
A aplicação de produtos de contacto (orgânicos, organo-cúpricos e cúpricos) deverá fazer-se de modo preventivo e/ou nos períodos de menor risco da doença; normalmente os tratamentos com estes produtos deverão efectuar-se com uma cadência de 10 dias, devendo repetir-se sempre que ocorra uma precipitação superior a 20 mm devido a sofrerem lavagem. Quando na presença de fortes condições de infecção, dever-se-á encurtar o intervalo referido entre tratamentos, para 7 dias.
Quanto à aplicação de produtos penetrantes ou sistémicos, esta pode efectuar-se de modo preventivo ou curativo, no entanto deve reservar-se o seu uso para as fases mais críticas do ciclo vegetativo, ou seja, de maior risco de infeção e obviamente quando já ocorreram infecções na vinha. Os produtos penetrantes, tal como o próprio nome diz, têm a capacidade de penetrar nos tecidos e deste modo controlar a doença até 2 dias após a ocorrência da infeção. Os sistémicos, para além da capacidade de penetrarem nos tecidos, translocam-se na seiva da planta e deste modo mantêm protegidas as partes em crescimento.
Actualmente existem no mercado produtos comerciais que associam quer substâncias activas penetrantes (cimoxanil) quer substâncias activas sistémicas (ofurace, metalaxil, fosetil de alumínio, etc), e claro, de contacto também, permitindo uma protecção eficaz. Face ao seu modo de acção, estes produtos deverão pois posicionar-se nos esquemas de tratamentos no período de maior crescimento da videira que coincide perto da floração. Os produtos penetrantes e sistémicos têm a propriedade de serem absorvidos rapidamente (geralmente após 1 hora) e como tal têm maior persistência de ação; normalmente o intervalo entre tratamentos destes produtos é de 12 a 14 dias respectivamente, todavia, na presença de condições de forte pressão da doença deve-se reduzir para 8 e 12 dias respetivamente.
A partir da fase de diminuição do crescimento da videira, bago de ervilha (K), a persistência dos produtos cúpricos aumenta, devendo ser aplicados a partir deste momento, pois para além de terem ação sobre o oídio e a podridão cinzenta, prolonga a vida útil das folhas na cepa e o atempamento das varas.
Na luta cultural há que evitar o excessivo vigor das videiras, induzido pela casta, sistema de condução, adubações azotadas e podas, no sentido de criar um bom microclima por arejamento e exposição ao sol de cachos e folhas; cabe ainda aqui referir, a prática de intervenções em verde como forma cultural de melhorar o referido microclima e favorecer a penetração das caldas dos tratamentos.