Doenças
Podridão cinzenta - Botrytis cinerea
A importância desta doença na região tem vindo a aumentar progressivamente nos últimos anos, com o aparecimento precoce de ataques na Primavera e mais intensos à maturação, fruto de Invernos mais amenos e Primaveras e Outonos chuvosos. Por outro lado, um quadro eficaz de controlo à podridão é exigente quer em número de tratamentos (4) quer em produtos de elevado custo. As perdas de produção nesta região podem ultrapassar os 50%, para além das perdas na vinificação e sobretudo na qualidade dos vinhos.
O fungo hiberna nas varas da videira sob forma resistente (escleroto) ou micélio, e este preferencialmente no ritidoma da videira ou em qualquer detrito húmido ou no solo. Na Primavera dão origem a frutificações que produzem grande quantidade de esporos que disseminados pelo vento e/ou salpicos de água vão infectar os órgãos verdes da videira.
Este fungo é favorecido por temperaturas entre os 15 e os 25ºC, encontrando o ótimo entre os 18 e os 20ºC, e humidade relativa elevada, 90-100%, impedindo as temperaturas inferiores a 10ºC o seu desenvolvimento. A humidade é um fator essencial ao seu desenvolvimento, pelo que todas as situações de vinhas próximas de linhas de água, em terrenos húmidos, com muitas infestantes e com vegetações sombrias e frescas, são preferidas.
Lesões nos órgãos verdes, em particular nos bagos que exsudam algum suco, são excelentes portas de entrada para este fungo; as lesões podem ter origem num fator climático como o granizo, num desequilíbrio hídrico que leva ao rachamento dos bagos ou em ataques parasitários anteriores, como os do oídio (bago rachado) e da traça-da-uva (bago perfurado).
O fungo, em condições favoráveis de Primaveras demasiado húmidas, pode atacar folhas e cachos, sendo vulgar em certos anos, ataques precoces da doença ainda antes da floração (podridão peduncular).
Os ataques de oídio ou da traça-da-uva mal controlados, acabam por ser agentes auxiliares dos ataques e respetivos sintomas da podridão cinzenta, pois o fungo responsável por esta doença tanto tem capacidade de penetrar por si só nos tecidos do hospedeiro como o faz através de feridas nos órgãos verdes da videira.
Órgão (estado fenológico)
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Sintomas da Podridão cinzenta
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Pâmpanos (D-E )
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Manchas castanho claras, que podem secar a partir da extremidade
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Folhas (E-F)
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Manchas castanhas ou castanho avermelhadas, de forma irregular e na periferia da folha. Se o tempo estiver muito húmido surge uma penugem cinzenta sobre as manchas
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Inflorescências (G-I)
Cacho (J)
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Dessecação parcial ou total, podendo chegar a cair
Bagos 'de chumbo' com tom violáceo, que engelham e secam, cobrindo-se com a penugem cinzenta
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Cacho (M)
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Manchas castanhas ou castanho-violáceas cobertas de bolor cinzento ou cinzento-violáceo.
Sob humidade muito elevada, o pedúnculo e o engaço são afectados com manchas claras de aspecto húmido (podridão peduncular) podendo o próprio cacho cair pelo peso da uvas
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Sarmentos
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Tom esbranquiçado, formando-se manchas negras de forma irregular, alongadas e salientes (esclerotos) nas zonas mal atempadas
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Os sintomas da podridão ao nível da inflorescência distinguem-se dos provocados pelo míldio, pois o bolor é cinzento e a inflorescência não se deforma em S ou em báculo. Os sintomas ao nível dos bagos diferem dos provocados por outras podridões: da podridão ácida por esta ter um forte cheiro a vinagre e a presença da mosca do vinagre (Drosophila sp.); do Aspergillus niger pelo bolor inicialmente branco mas que enegrece, desprendendo-se os bagos do pedúnculo; do Rhizopus sp. pelo bolor em pontos brancos que escurecem, ficando os bagos mumificados no cacho e do Penicillium sp. pela coloração inicial de uma mancha castanhada clara e depois pelas pústulas brancas que evoluem para o verde azulado, perdendo o bago a consistência e caindo. Os sintomas da Botrytis nos sarmentos, podem confundir-se com os da escoriose, que também apresentam uma coloração esbranquiçada com pontos pretos, mas mais na base do sarmento, e não em forma de manchas salientes como a podridão.
Os estragos provocados por esta doença não se ficam pela elevada quebra de produção, estendem-se à vinificação pelo menor rendimento das prensas, maior percentagem de borras e dificuldades de clarificação dos vinhos. A qualidade do vinho é profundamente alterada, não só pela presença de enzimas do fungo, mas também por provocar diminuição da população de leveduras o que afeta a fermentação, diminuição da acidez total (essencialmente o ácido tartárico) e aumento do cítrico e acético, perda de aromas e sua alteração, perda de cor nos tintos e turvação nos brancos, ocorrência de casses, etc.
A luta cultural no combate a esta doença é fundamental, pois numa região como esta favorável ao seu desenvolvimento, é insensato usar castas sensíveis em locais onde a humidade relativa é elevada; por outro lado, em vinhas instaladas devem ser tomadas medidas que incrementem a humidade, tais como, limpeza de infestantes na linha e intervenções em verde para melhorar o microclima ao nível dos cachos.
Na luta química o método standard preconizado é o da realização de 4 tratamentos: à floração-alimpa, antes do fecho do cacho, no início do pintor e 3-4 semanas antes da vindima. O controlo eficaz da Botrytis passa obrigatoriamente pela realização do 1º tratamento à floração-alimpa; sabe-se hoje que o fungo permanece na caliptra agarrada aos jovens bagos pelo que é fundamental o seu combate neste estado. Nas castas que apresentam o cacho muito fechado é também importante realizar o tratamento antes do fecho do cacho, sendo sempre fundamental a realização do tratamento contra esta doença ao início do pintor. Quanto ao 4º tratamento, isto é, 3-4 semanas antes da vindima, no caso de castas precoces deixa de fazer sentido, pois coincide com o tratamento ao pintor. Por outro lado, pouco efeito tem efectuar apenas este tratamento contra a Botrytis na pré-vindima, se não se efectuarem os considerados tratamentos-chave, isto é, à floração-alimpa e ao pintor.
Na actualidade são vários os produtos utilizados no combate à Botrytis quer com acção preventiva quer com acção curativa. Segundo estudos feitos na EVAG, o grupo de produtos pertencentes à família dos benzamidazóis (caso do benomil e da carbendazima) de acção sistémica, revelaram quebra de eficácia em certos locais por aparecimento de resistências do fungo, razão pela qual saíram do mercado; por isso, estes produtos devem ser utilizados com o cuidado de alternar o grupo da substância activa empregue durante os diversos tratamentos. Não será de desprezar também, a acção secundária sobre a Botrytis, de alguns produtos usados contra o míldio da videira (caso do cobre).
É importante referir que a aCção dos produtos anti-Botrytis é condicionada pela qualidade do tratamento, devendo visar essencialmente o cacho, sendo portanto fundamental manter as sebes bem arejadas, com os cachos bem expostos de modo a facilitar o acesso da calda aos mesmos. Quase sempre um bom controlo da Botrytis passa pelo controlo eficaz da traça da uva, principal responsável pelas feridas nos bagos, bem como do oídio.