Pragas
Traça da uva (Lobesia botrana)
Esta é a praga mais antiga na região e que sempre foi considerada no esquema de tratamentos tradicional, estando na origem do popular sintoma do 'falso pintor' quando os bagos atacados se enegreciam muito antes do pintor. Verifica-se um caráter epidemiológico desta praga, havendo 'anos de muita traça' e 'anos de pouca traça', sendo difícil estabelecer modelos de correlação entre os factores climáticos (essencialmente temperatura) e o ciclo biológico da praga.
Existem duas espécies de traça, sendo a mais vulgar a eudémis (Lobesia botrana), no entanto, em certos locais desta região (Monção e Melgaço) aparece preferencialmente a outra espécie, a cochilis (Eupoecilia ambiguella). As traças são borboletas que dão umas pequenas lagartas, que causam estragos ao nível dos cachos. Geralmente nesta região ocorrem 3 gerações, sendo as duas últimas as mais nefastas; a primeira geração surge pela floração-alimpa, sendo facilmente reconhecida a sua presença pela tradicional teia que envolve grupos de flores criando os conhecidos 'ninhos'.
A traça apresenta normalmente três gerações, ocorrendo a hibernação nas pupas da 3ªgeração que, dentro de casulos, se escondem sob o ritidoma das cepas, ou então em folhas caídas, em tutores ou no solo. A 1ªgeração desenvolve-se na Primavera até à floração, a 2ª nas fases de bago de ervilha-fecho do cacho e a 3ª do pintor até à maturação.
Dos ovos da 1ªgeração, postos nas brácteas dos botões florais, saem lagartas que produzem fios de seda que envolvem várias flores de que se alimentam, formando como que 'ninhos'. Já as lagartas das gerações seguintes e ao longo de várias mudas, perfuram os bagos, penetram neles e alimentam-se do seu conteúdo.
As temperaturas de desenvolvimento mais favoráveis são de 20 a 25ºC, considerando-se para as posturas o mínimo de 14ºC e o máximo de 36ºC. A humidade relativa mais favorável varia entre os 40 a 70%.
A determinação das curvas de voo dos adultos da traça, através da utilização de armadilhas sexuais, são um precioso instrumento para estimar o risco da praga. O voo ocorre durante a hora crepuscular e portanto durante o dia as borboletas estão inactivas nas folhas e cachos.
Os sintomas provocados pela traça da uva, seja em que geração for, são inconfundíveis, sendo contudo os ovos os mais difíceis de identificar, quer pela sua reduzida dimensão (< 1 mm) quer pela pouca coloração (branco-amarelados a translúcidos).
Órgão (estado fenológico)
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Sintomas da Traça da uva
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Inflorescência (H-I) - 1ª geração
Bagos (K) - 2ª geração
Bagos (L-M) - 3ª geração
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'Ninhos' formados por fios de seda em redor de botões florais, e eventual presença de lagartas
Perfurações nos bagos, ovos nos pedicelos e bagos e lagartas fora e dentro dos bagos
Idem os da 2ª geração
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Normalmente os estragos causados pela 1ª geração até certo limite podem considerar-se desprezíveis, surgindo numa fase em que a videira tem grande capacidade de recuperação. O mesmo não se pode dizer dos seguintes, que ganham carácter de prejuízo, não só pelo número de bagos destruídos mas essencialmente pelo efeito indirecto ao contribuírem para o ataque da podridão cinzenta e acética.
No controlo da traça, e após detetada a sua presença, podem usar-se várias estratégias de controlo. Antes de mais só se deve intervir quando for atingido o nível económico de ataque (NEA) o qual está definido de acordo com as diferentes gerações. Na 1ª geração o NEA é de 100 ninhos em 100 cachos, na 2ª e na 3ª geração deve-se intervir logo que se notem 2% de cachos atacados, isto é, com bagos perfurados. Verificada a necessidade de intervir pode-se usar um inseticida, todavia, devem-se usar apenas inseticidas homologados para a protecção integrada, entre os quais cabe destacar os chamados R.C.I. (Reguladores de Crescimento de Insectos) por serem menos tóxicos sobre a fauna auxiliar. A eficácia do tratamento contra a traça tem muito a ver com a fase de desenvolvimento da praga e com o modo de acção do produto escolhido para a controlar. Se um produto é fundamentalmente ovicida terá que ser aplicado ligeiramente antes do momento da postura, se essencialmente larvicida terá que ser aplicado um pouco antes da eclosão dos ovos.
Também se pode recorrer a um produto biológico específico, como é o caso do Bacillus thurigiensis, de modo a não contaminar o meio ambiente.
A determinação da curva de voo através das armadilhas sexuais é um instrumento precioso para melhor posicionar o tratamento. Começa a ser usual em produção integrada efectuar-se o controlo da traça da uva pelo método da confusão sexual, que se baseia em colocar na vinha um conjunto de difusores de feromona de modo a perturbar a orientação dos machos. A quantidade de difusores a aplicar é de 1 difusor por cada 200 m2, ou sejam, 500 por hectare. A sua eficácia obriga a que a vinha esteja bem isolada das restantes vinhas ou então que se utilize o mesmo método nas vinhas contíguas.